Estava sentada num banco frente ao mar. Rectilíneas ondas varriam a falésia numa extensão medida pelo alcance do seu olhar.
O sol, declinando naquele final de dia de Setembro, emprestava ao pó barrento do chão, às rochas e ao mar, uma tonalidade luminosa dum aloirado brilhante.
Não era um momento de melancolia. Era hora de êxtase e de adeus, até um dia. Era a hora indefinida, do ir dali para outro lugar. Digamos que mais uma vez recomeçava uma etapa do ir e vir que sempre a acompanhava.
Soprou uma leve aragem que agitou o ar e que trouxe o som leve de passos que vêm vindo… Imagina uma sombra que se alonga e desloca. Não a pode ver porque se estende no chão, para nascente, nas suas costas. Adivinha-a e imagina-a longa, esguia e escura… Alguém chega, pára e senta-se no mesmo banco.
Ela disfarçadamente, olha e vislumbra um vulto, sentado a seu lado. Quer e não quer ver melhor. Não sabe se deseja ou não saber se é, quem de relance lhe pareceu. Há algo que diz sim! Há algo que diz não. Não, o volume da silhueta, um enrugar de mãos… Sim, a presença. Algo inconfundível, familiar e indefinível que sempre esteve presente. Companhia de dias e dias, anos e anos. Personagem de sonho, vulto tantas vezes vislumbrado ao longe e nunca encontrado, sempre miragem.
Olha? Não olha? De repente, sem qualquer resposta às suas perguntas sem qualquer consentimento, olha mesmo…
São os mesmos olhos verdes, não iguais. Mais pequenos, meio escondidos entre sulcos, mas a mesma limpidez. Fica siderada! Implacavelmente ligada àquele olhar, sempre tão longe, só imaginado e agora presença.
O sorriso também é o mesmo. Franco limpo, lindo!
Estremece ao sentir na sua mão, o calor de outra a apertá-la.
Como se de muito longe, ouve uma voz (essa diferente), difusa roufenha…
_ Sabia que um dia te encontraria aqui!
Agradecida, fecha os olhos para esconder duas lágrimas que indiscretas e espontâneas se lhe soltam. Deixa-as rolar sobre as faces enrugadas, pois também se chora de emoção, mesmo quando resulta do imaginado.
Jesus Varela